Movido Pela Eternidade - John Bevere - Capítulo 05
Leitura do livro - Por Rosaine Dalila Scruff
Faça o download:
Capitulo 5A
O JULGAMENTO DE ENGANADO
Sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade.
Jesus veio nos salvar de termos de pagar a penalidade eterna pelo pecado, que foi originalmente destinada a Satanás e seus anjos. A Sua vida sendo dada por nós revela o tremendo amor de Deus.
Pense nisto: No princípio o Senhor criou a humanidade juntamente com os animais, os pássaros, os insetos, as criaturas marinhas, e todo o restante da terra, inclusive a sua atmosfera perfeita. Lemos: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1:31). Então, Ele colocou uma criação perfeita nas mãos do homem, a fim de que ele a guardasse e mantivesse. Como declara o Salmista, “Os céus pertencem somente ao Senhor, mas a terra Ele deu aos seres humanos” (Salmos 115:16, NTLH). Seria responsabilidade de Adão proteger não apenas a si mesmo, mas toda a criação do arquiinimigo de Deus, Lúcifer.
Deus não queria ter robôs no jardim, que não pudessem escolher livremente amá-lo e obedecer-lhe, e assim, entre uma infinidade de árvores, uma foi colocada no centro do jardim com a seguinte ordem: “Você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Não coma a fruta dessa árvore, pois, no dia em que você a comer, certamente morrerá” (Gn 2:16-17, NTLH). A morte de que Ele falava não era a morte física, pois Adão não passou pela morte física senão muitos anos depois (também em resultado de sua desobediência). Em vez disso, o Senhor mostrou ao homem que ele seria cortado da vida de Deus e assumiria a natureza de Lúcifer, que é a morte.
Depois de algum tempo, Lúcifer enganou Eva pervertendo o caráter de Deus aos olhos dela. Ele conseguiu tirar o foco dela de todas as árvores à disposição, para colocá-lo na árvore proibida. Uma vez que ela considerou a árvore como sendo boa, benéfica e agradável, ela comeu, porque agora via o Senhor como alguém que “tira” e não mais como o “Doador” que Ele é. Mas a humanidade ainda não havia caído. Foi apenas quando o seu marido tomou parte naquilo que a criação de Deus assumiu a natureza da morte. Por este motivo, o pecado dele foi maior – ela foi enganada; ele não (ver 1 Timóteo 2:14).
Consequentemente, não somente Adão, mas toda a criação que havia sido colocada sob a sua autoridade imediatamente assumiu a natureza da morte. Antes da traição de Adão, os animais não devoravam e comiam carne, nem morriam. Tornados, terremotos, furações, fomes, doenças e pestes não existiam. Tudo isto foi resultado do homem não guardar o que Deus confiou aos seus cuidados. Agora, não somente a humanidade tinha a natureza da morte, como também toda a criação.
Lemos:
Contra a sua vontade, tudo na terra foi sujeito à maldição de Deus. Toda a criação aguarda o dia em que se unirá aos filhos de Deus na gloriosa libertação da morte e da corrupção.
ROMANOS 8:20-21, NLT
A natureza não foi amaldiçoada com a morte por sua escolha, mas pela insubordinação do homem a Deus. Ele não protegeu o que foi confiado aos seus cuidados. Adão submeteu não só a natureza, mas a si mesmo, sua esposa e todas as gerações futuras ao que era originalmente a maldição de Lúcifer, a separação de Deus. Que deslealdade, que traição! A essa altura Deus poderia ter dito: “A humanidade, a quem amei, abençoei, e criei perfeita, escolheu a Lúcifer em vez de a Mim; que todos eles vão para o Lago de Fogo e Nós (Pai, Filho e Espírito Santo) começaremos tudo novamente; criaremos um novo universo com seres que permaneçam leais e nos amem tanto quanto nós os amamos”.
Se o Senhor tivesse feito isto, Ele teria sido perfeitamente justo em Sua decisão. Mas por Seu imenso amor, Ele fez a promessa à humanidade de enviar um Redentor que nos libertaria do cativeiro sob o qual nos colocamos. Esse Redentor seria o Seu Filho, com quem Ele criou os céus e a terra. Então, em outras palavras, Ele pagaria o preço terrível pelo nosso pecado e a natureza da morte quando nada fez a não ser amar-nos desde o princípio. Este é um amor impressionante.
Esta é a razão do Calvário. Fico impressionado quando cristãos ficam desconcertados diante de um incrédulo que diz: “Como um Deus amoroso pode mandar pessoas que nunca ouviram o Evangelho para o inferno?” A minha resposta simples é: “A culpa não é Dele, mas nossa”. Jesus pagou o preço terrível para libertar a humanidade e depois disse a nós, que já entendíamos, que estas boas novas deveriam percorrer todo o mundo e que deveríamos dizer a todos os que nunca ouviram falar disso que fomos redimidos da maldição que trouxemos sobre nós mesmos e sobre toda a criação. Teremos de prestar contas pela nossa geração; Deus fez a parte Dele!
ASSUMIMOS ANATUREZADE DEUS
O julgamento pelos nossos pecados não apenas foi pago por Jesus, como também assumimos uma nova natureza que é à semelhança da natureza de Deus, não mais escrava do pecado. Quando uma pessoa entrega sua vida inteiramente a Jesus, ela se torna uma criatura inteiramente nova.
Quando alguém se faz cristão, torna-se uma pessoa totalmente nova por dentro. Já não é mais a mesma. Teve início uma nova vida!
2 Coríntios 5:17, ABV
Literalmente morremos quando recebemos Jesus Cristo como Senhor. A nossa velha natureza recebe a pena de morte; crucificada com Cristo aos olhos de Deus. Nasce uma pessoa nova em folha com a natureza de Deus. Assim nascemos de novo. Agora somos libertos da natureza que um dia comandou as nossas vidas. Como as Escrituras demonstram claramente: “E assim como Cristo foi levantado dos mortos pelo glorioso poder do Pai, agora também podemos viver novas vidas... O nosso antigo ser pecaminoso foi crucificado com Cristo para que o pecado perdesse o seu poder em nossas vidas. Já não somos mais escravos do pecado. Pois quando morremos com Cristo fomos libertos do poder do pecado” (Rm 6:4, 6-8, NLT). Agora podemos viver de acordo com a natureza de Cristo, não de acordo com a natureza à qual estávamos presos devido à traição de Adão.
É total ignorância um cristão desdenhar uma pessoa que não recebeu Jesus como seu Mestre pelo seu estilo de vida. O DNA espiritual dessa pessoa é pecar, e é exatamente isto que ela faz. O que é estranho e completamente antinatural é um “crente” que peca habitualmente ou intencionalmente. O motivo pelo qual coloquei crente entre aspas é porque uma pessoa que pratica o pecado pode declarar Jesus como seu Salvador e Senhor mas na verdade Ele não o é; pois se realmente assim fosse, essa pessoa manifestaria a natureza divina em sua vida. Jesus deixou isto bem claro dizendo:
As diversas qualidades de árvores frutíferas podem ser rapidamente identificadas pelo exame do seu fruto. Uma árvore que dá bons frutos nunca dá um fruto que não se pode comer, e uma árvore que sempre dá frutos ruins, nunca dá um fruto que se pode comer. Por isso as árvores que têm um fruto que não se come, são cortadas e atiradas no fogo. Sim, o meio de identificar uma árvore ou uma pessoa é pela qualidade do fruto que dá.
Mateus 7:17-20, ABV
O que Ele declara não é complexo e é definitivamente inalterado. A causa não é o fruto, mas a natureza da árvore; no entanto, isto é demonstrado pelo fruto. Se você se aproxima de um arbusto que contém uvas-do-monte saudáveis, você sabe que aquele é um arbusto bom para alimento. Por outro lado, se você encontra frutos venenosos, sabe que não é um bom arbusto. A prova, ou evidência, de que uma árvore é boa ou venenosa é pelo tipo de fruto que ela produz. Do mesmo modo, Jesus diz que a forma de identificarmos se uma pessoa é um cristão genuíno não é por aquilo que ela diz, por quanto ela pareça ser religiosa, mas sim pelo que ela faz! O fruto dela é abnegado e focado no Reino, ou é egoísta e focado no mundo, como o apóstolo João descreve em sua carta:
Não amem os caminhos do mundo. Não amem os bens do mundo. O amor ao mundo esmaga o amor pelo Pai. Praticamente tudo o que acontece no mundo – querer as coisas do seu jeito, querer tudo para si, querer parecer importante – não tem nada a ver com o Pai. Estas coisas apenas o isolam Dele. O mundo e todo o seu eterno querer, querer e querer está prestes a se acabar, mas aquele que faz o que Deus quer está destinado à eternidade.
1 JOÃO 2:15-17, MES
Foi necessário muito tempo para que Lisa e eu convencêssemos nossos filhos disto. Eles frequentavam escolas cristãs e observavam diversos colegas de turma que frequentavam a igreja regularmente com seus pais e professavam ser cristãos, mas que estavam habitualmente produzindo frutos de auto-gratificação, como vimos nas Escrituras acima, em vez de frutos semelhantes a Cristo. Aqueles colegas viviam a vida para si mesmos, em vez de buscar e ter prazer em fazer a vontade de Deus. A situação de nossos filhos na escola é apenas um entre inúmeros exemplos que eu poderia dar.
Este problema encontra-se nos lares, no mundo empresarial, e até em igrejas e ministérios. Há muitos que confessam ser cristãos mas que produzem frutos que indicam claramente o contrário.
A “CONVERSÃO” TÍPICA
O Evangelho que pregamos tem sido deturpado colocando-se a ênfase em aceitar Jesus e fazer a oração de arrependimento. Nós o confessamos como “Senhor”, e feito isto, estamos eternamente salvos. Mas não é isto que Jesus ensina. Ele diz: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus” (Mateus 7:21, NVI).
Se apenas ouvíssemos a Sua declaração sem filtrá-la através de anos de pregação, ensino, escritos e canções desequilibradas sobre a graça de Deus, veríamos que ela contradiz o nosso Evangelho moderno. As palavras Dele não poderiam ser mais claras – nem todos que fizeram a oração de arrependimento, confessando-O como Senhor, irão para o céu. E se eles não vão para o céu, existe apenas uma alternativa, que vimos no capítulo anterior.
Vamos ensaiar um culto típico de evangelismo. O pregador prega uma mensagem do tipo “venha para Jesus e receba bênçãos”. Ele fala sobre como Jesus nos dará alegria, paz, prosperidade, felicidade, saúde, o céu, e daí por diante. Não me entenda mal. É o desejo de Deus nos abençoar, mas Jesus nunca usou a bênção para seduzir as pessoas a segui-lo. Então, após o discurso de vendedor de quarenta e cinco minutos, ele pede à audiência para curvar a cabeça e pergunta se eles fossem morrer esta noite se iriam para o céu. Ele até incentiva a todos a olharem para a pessoa do seu lado direito e esquerdo e fazer a mesma pergunta, a fim de ajudá-lo a ganhá-las. “Se elas não puderem dizer ‘sim’, diz ele em seguida, “segure-as pela mão e traga-as aqui para a frente”.
Quando os candidatos vão à frente, cantam-se canções do tipo “Tal Qual Estou”. Em outros casos, a audiência apenas aplaude e sorri com os instrumentos tocando uma melodia triunfal para acompanhar a marcha deles até à frente.
Quando todos estão na frente, o ministro pede que curvem suas cabeças e repitam uma oração comum do tipo: “Pai, confesso que sou um pecador, perdoa o meu pecado. Neste dia peço que Jesus entre em minha vida como meu Senhor e Salvador. Obrigado por me tornar Teu filho. Em nome de Jesus, Amém”.
A platéia aplaude, a música toca, e os novos “convertidos” voltam aos seus assentos, “tal qual estavam”. Com a diferença de que agora eles estão enganados. Nada foi dito com relação ao arrependimento de um estilo de vida desobediente, negando seus próprios desejos para abraçar a vontade de Deus, e perdendo suas vidas para a causa de Cristo. Eles confessaram Jesus como seu “Senhor”, mas não houve uma mudança no coração. Jesus agora é apenas parte de suas vidas. Bem, permita-me informá-lo, o Rei dos reis e Senhor dos senhores não entra na vida de ninguém como o segundo, ou até mesmo o primeiro, entre outros amantes rivais. Ele só entra como nosso Rei completo e total, sem que haja nenhuma pessoa, coisa ou atividade competindo para ocupar o Seu lugar em nosso coração. Ele deve ser Senhor, o que significa Mestre e Proprietário Supremo, o que significa que não possuímos mais a nossa vida.
Pense nisso. Você se casaria com alguém que lhe informasse que seria fiel a você juntamente com os seus outros amantes, mas que você estaria em primeiro lugar?
Quanto mais o Rei do universo! Será que Ele aceitaria uma noiva que diz: “Você é o primeiro de todos os meus outros amores?” Não existe relacionamento de aliança, nem a união de dois como sendo apenas um. Que engano!
Esses novos “convertidos” não permitiram que a cruz matasse a sua vida egocêntrica e abrisse espaço para que a nova natureza de Jesus fosse formada dentro deles. Eles apenas compraram a idéia de uma vida melhor aqui e a promessa do céu. É interessante. Em muitos países do mundo onde os cristãos são perseguidos, eles vão para Jesus sabendo que estão perdendo suas vidas. Hoje, nas sociedades ocidentais, vamos a Jesus para termos uma vida melhor e o céu. Mas também precisamos perder nossas vidas.
Hoje, muitos evangélicos típicos na nossa sociedade vivem no engano, em resultado do tipo de evangelho que pregamos. Os novos convertidos podem ser energizados por sua fé recentemente encontrada, participar de atividades cristãs, frequentar a igreja, e até se envolverem em evangelismo, porque tudo é muito novo e empolgante. É como estar em um novo clube, tentar um esporte novo, frequentar uma nova escola, ou trabalhar em um novo emprego. É tudo muito novo, mas eles não fizeram o que Jesus mandou que todos os verdadeiros seguidores fizessem, que é calcularem o custo de segui-lo e então tomarem a decisão permanente de pagar o preço de terem suas vidas entregues ao Seu serviço (ver Lucas 14:27-33).
PERDER PARA GANHAR
É uma troca; temos de entregar toda a nossa vida, e no lugar dela recebemos a vida (natureza) dele. Jesus transmite isto repetidamente:
Se alguém quer vir após Mim, a si mesmo se negue [esqueça, ignore, deserde, e perca a si mesmo de vista], tome a sua cruz e [unindo-se a Mim como discípulo e apoiando os que estão comigo] siga-Me [continuamente, apegando-se firmemente a Mim].
MARCOS 8:34, AMP
Devemos nos apegar firmemente a Ele continuamente. Não se trata apenas de uma oração feita uma vez para depois voltarmos à vida normal, com a diferença de que agora você está no clube dos “nascidos de novo” e seu destino é o céu. Jesus continua:
“Se você tentar guardar a sua vida para si mesmo, você a perderá. Mas se você abrir mão da sua vida, por amor a mim, e por amor às Boas Novas, encontrará a verdadeira vida” (Marcos 8:35, NLT). A Amplified Bible declara isso deste modo: “Quem abrir mão da sua vida [que só é vivida na terra] por amor a mim e ao Evangelho, a salvará [a sua vida mais elevada, e espiritual no reino eterno de Deus]”.
É uma troca definitiva; abrimos mãos de nossos direitos como possuidores das nossas vidas para seguir os desejos dele, e em troca recebemos a vida eterna dele. Com o Evangelho que é pregado hoje, não enfatizamos este aspecto extremamente importante de seguir a Jesus; só informamos os benefícios. Na essência, pregamos as promessas da ressurreição sem pregarmos o impacto e a decisão da Cruz.
Isso poderia ser comparado ao jovem que vê um comercial de recrutamento militar na televisão. Ele observa um elegante marinheiro mais ou menos da sua idade, vestido com um uniforme impecável no convés de um navio notável, viajando por mar aberto, com um lindo céu cristalino, sorrindo com seus companheiros. O comercial então mostra este marinheiro nos portos de todo o mundo, e tudo isso de graça. O jovem imediatamente se apresenta ao recrutador e se alista. Ele não lê as condições para o alistamento porque está concentrado apenas nos benefícios. Ele está muito feliz; agora terá a oportunidade de ver o mundo, de se tornar parte de uma grande instituição, e de fazer muitos amigos novos.
Entretanto, ele logo descobre no treinamento básico que não pode dormir até às 9 horas como estava acostumado a fazer. Recebe ordens de cortar seu cabelo longo do qual tanto gosta. Ele não pode frequentar muitas reuniões sociais, porque não pode deixar a base, a não ser por dois dias por mês. E o que é pior, ele está em um programa disciplinar que não concede tempo para diversão. Enquanto isso, ele está limpando banheiros e refeitórios, e fazendo flexões e outros exercícios de treinamento bastante difíceis. Ele perdeu aquele tempo abundante de lazer que tinha e está desabando na cama todas as noites de exaustão. Ele ainda está esperançoso, pois sabe que logo estará no navio. Quando o treinamento básico termina, ele é indicado para um navio, mas a intensidade de trabalho é a mesma, com a diferença de que agora é em mar aberto. A guerra estoura, e agora ele se vê lutando em uma batalha para a qual ele não se candidatou.
Ele se alistou porque aquela era uma vida que ele jamais poderia oferecer a si mesmo, e era tudo grátis. Sim, era grátis, mas, na agência de recrutamento, ele não atentou para os detalhes de que isto lhe custaria toda a sua liberdade. Em vários aspectos, ele agora se sente ofendido. Sente-se enganado; aos seus olhos, foi-lhe vendido um pacote que só lhe mostrava os benefícios, mas não indicava o custo pessoal.
Temos pregado um evangelho que fala de uma salvação gratuita, o que é absolutamente preciso, mas deixamos de dizer aos candidatos que isto lhes custará a sua liberdade.
Quando falo de liberdade, não falo da liberdade real, mas da que pode ser discernida, pois todos aqueles que estão fora de Cristo estão destinados ao pecado. Eles são escravos, embora possam crer plenamente que são livres. Poderíamos comparar isto ao filme Matrix. Meu filho mais velho alugou a versão editada deste filme uma noite, e mostrou-o à nossa família, e pude ver um paralelo impressionante.
Uma questão interessante é colocada em Matrix: “Como você saberia a diferença entre o mundo dos sonhos e o mundo real se você não despertasse do sono?”1 Neste filme, a vida no século XX flui normalmente ou assim parece. Mais tarde, no século XXI, o homem desenvolve a inteligência artificial (mencionada simplesmente como As Máquinas). As Máquinas assumem o controle na terra, e o homem revida. Na luta de poderes que se segue, o mundo é dizimado e as Máquinas são vitoriosas. Essas máquinas descobrem que podem sobreviver usando a eletricidade gerada pelo corpo humano, então criam uma grande ilusão para enganar os humanos fazendo com que eles as sirvam. O mundo “parece” ainda ser normal (século XX), mas na verdade os corpos dos humanos são mantidos em câmaras em grandes “fazendas”, e suas mentes são ligadas a um programa de computador mundial de realidade virtual chamado Matrix.
Então, na essência, a liberdade da vida deles não é real; em vez disso, eles são escravos.
É nesse ponto que o filme abre com um grupo seleto de homens e mulheres que conseguiram ilegalmente abrir caminho para fora de Matrix, descobrindo a sua verdadeira identidade. Eles formam uma colônia chamada de Zion no mundo real (que de outro modo não tem vida). Alguns deles entram novamente em Matrix para combater as Máquinas e libertar a humanidade. O combate é intenso e a vida não é fácil; mas os combatentes estão mais interessados na liberdade genuína e não em viver uma mentira de falsa liberdade. Eles preferem ter liberdade com dificuldade do que a escravidão com um conforto enganoso.
Aqui vemos o paralelo. Muitos incrédulos vêem os cristãos como escravos, em cativeiro, perdendo suas liberdades, enquanto eles próprios são livres. Porém, a verdade é que os que estão fora de Cristo são os que estão presos, de forma não muito diferente daqueles que vivem uma mentira nas “fazendas” escravizadas por uma máquina. Eles são escravos do pecado.
Capitulo 5B
DIFÍCIL SER CRISTÃO
Não apenas aqueles que nunca ouviram, ou se recusam a acreditar no Evangelho, estão cativos, como muitos “convertidos” típicos desta geração também estão cativos.
Criamos este dilema quando deixamos de proclamar o preço de seguirmos a Jesus.
Muitos pensam que são livres, mas na verdade não são, e a evidência está no estilo de vida deles. Jesus disse:
Em verdade em verdade vos digo: todo o que comete e pratica pecado é escravo do pecado. Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho [da casa], sim, para sempre. Se, pois, o Filho vos libertar [vos tornar homens livres], então sereis verdadeiramente e inquestionavelmente livres.
JOÃO 8:34-36, AMP
Estas palavras reiteram a verdade do fruto da árvore. Se alguém peca habitualmente, então é escravo do pecado. Ele não é filho, pois a sua real natureza não foi transformada. Ele pode achar que é livre porque fez a oração de arrependimento, mas ele não abriu mão de seus “direitos” para seguir Jesus. Ele ainda quer ter as suas liberdades (a falsa liberdade) juntamente com os benefícios da salvação. Mas não se pode ter ambos!
Como mencionado anteriormente, eles podem começar a sua experiência de “novo nascimento” com alegria, entusiasmo e paixão porque é algo inteiramente novo. No entanto, mais cedo ou mais tarde a sua natureza não transformada se manifestará, mas ela se manifestará nos círculos cristãos e estará oculta com uma linguagem e um estilo de vida evangélico. É por isso que é algo tão enganoso. Mas o Novo Testamento nos adverte especificamente contra este engano! Paul escreveu: “Nos últimos dias, vai ser muito difícil ser cristão” (2 Timóteo 3:1, ABV).
Estamos vivendo nos últimos dias. Não há dúvida a respeito disto; todas as Escrituras proféticas revelam que Jesus breve voltará. Paulo previu os nossos dias como sendo o período mais difícil para se ser cristão. Outras traduções usam as palavras perigosos e terríveis para descrever os tempos atuais. Por que isto? Examinando os dias de Paulo, vimos que ele enfrentou grande oposição. Ele recebeu trinta e nove marcas nas costas por ter sido chicoteado em diversas ocasiões; foi espancado com vara por três vezes diferentes; foi apedrejado uma vez; e passou anos na prisão. Ele se deparava com uma perseguição impressionante em todos os lugares para onde se voltava. Mas ele diz que nos nossos dias será mais difícil ser cristão! Por quê? Ele diz a razão:
Os homens serão egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus.
2 Timóteo 3:2-4, NVI
Ao examinar esta declaração de Paulo, você pode estar se perguntando onde ele estava querendo chegar. O que esta lista traz de diferente acerca dos homens dos tempos do apóstolo? As pessoas da sociedade daqueles dias tinham todas essas características; eram amantes de si mesmas e do dinheiro, eram ímpias, não misericordiosas, etc. Pedro chegou a dizer no dia de Pentecostes: “Salvai-vos desta corrompida (perversa, má, injusta) geração” (At 2:40; AMP). Então por que Paulo faz referência à nossa geração como sendo portadora dessas características a ponto de ser vista como a época mais difícil para ser um cristão? Ele prossegue e explica: “Pois embora tenham uma forma de piedade (a verdadeira religião), negam, rejeitam e são estranhos ao poder da mesma [a conduta deles contradiz a genuinidade do que professam ser]” (2 Tm 3:5; AMP). A versão NKJV declara: “Tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder”.
Agora você pode ver como vai ser difícil ser cristão em nossa geração. Muitos (de acordo com outras referências no Novo Testamento) que professarão ser cristãos, nascidos de novo ou salvos, não terão permitido que a cruz aniquile o seu ego. Eles não terão tomado a decisão de abandonar seus próprios direitos para seguir a Jesus. Crerão nele com sinceridade como o Salvador, mas esta ligação será meramente por causa do que Ele poderá fazer por eles, e não por quem Ele é. Não é diferente de uma mulher que se casa com um homem por causa do dinheiro que possui. Ela pode até se casar tendo amor, mas o fará pelos motivos errados. Assim sendo, eles o buscarão visando salvação e sucesso, e acreditarão sinceramente que Ele é o Salvador, porém nunca terão renunciado ao controle de suas próprias vidas.
LINHAS CRUZADAS
A dificuldade da qual falamos reside naquilo que definimos como linhas cruzadas. Vamos dar uma olhada em uma pessoa egocêntrica, mas que confessa ter tido a experiência do novo nascimento, fala a linguagem de um crente verdadeiro, faz amizade com pessoas cristãs e até fica entusiasmada nas reuniões dos crentes. Sua natureza, porém, não apresenta mudanças. De modo inconsciente, essa pessoa é, em essência, uma impostora, e o problema está no fato de que seu “autoengano” se espalha como uma doença. Há ainda aquelas pessoas que baseiam suas vidas na “norma” em vigor na cultura cristã, e tal “norma” está fora de sintonia com o céu, fazendo com que seja difícil tornar-se um verdadeiro cristão. Nos dias de Paulo, se você fosse um crente, sua vida estava em perigo a todo instante. Não havia dúvidas a respeito disso – uma vez tendo se comprometido com Jesus, você colocava sua vida em risco. Paulo prossegue:
Mas você sabe o que ensino, Timóteo, e como vivo, e qual é o meu propósito nesta vida. Você conhece a minha fé e por quanto tempo sofri. Você conhece o meu amor e a minha perseverança paciente. Você sabe quanta perseguição e sofrimentos suportei. Você sabe tudo sobre como fui perseguido na Antioquia, em Icônio e Listra – mas o Senhor me livrou de tudo aquilo. Sim, e todos quantos querem viver uma vida piedosa em Cristo Jesus sofrerão perseguição. Mas os homens perversos e os impostores prosperarão. Eles seguirão enganando a outros, e eles mesmos serão enganados.
2 Timóteo 3:10-13 (NLT; ênfase do autor)
Paulo deixou isto bem claro. Não apenas o que ele ensinava, mas o que vivia e o seu propósito na vida (movido pela eternidade, o que veremos mais adiante neste livro) provavam que Timóteo podia confiar nele. Não eram as suas orações respondidas, seus dons sobrenaturais e milagres operados, ou a sua excelente habilidade de ensinar a Palavra de Deus as características que Paulo estava indicando. Era o seu estilo de vida, que era, e deve ser ainda hoje, o fator determinante.
Ele prossegue dizendo que os “perversos e os impostores” prosperarão. Ora, todos sabemos que devemos ficar longe de pessoas perversas; no entanto, são os impostores – aqueles que assumem uma identidade externa que não está de acordo com a sua verdadeira natureza – os mais perigosos. São aqueles que professam e têm forma de Cristianismo, porém não apresentam evidências do poder transformador da graça.
Observe que Paulo diz que eles não apenas enganarão a outros, mas que eles mesmos serão enganados.
Isto descreve perfeitamente o personagem Enganado, de nossa alegoria. Este jovem era ativo na Escola de Endel, declarava-se um seguidor devoto e acreditava sinceramente que estava em posição favorável diante do rei. Ele colocava mais ênfase em sua suposta lealdade do que em uma vida que revelasse essa lealdade. Ele não apenas foi enganado, como enganou a outros. Devido aos padrões que estabeleceu, muito acabaram se comprometendo, desde as moças com quem se deitou até as muitas pessoas que influenciou dentro do corpo estudantil com a sua mensagem.
Mensagem?, você pergunta. Mas ele não era professor. Ah, sim, quero dizer mensagem mesmo, pois o modo como vivemos transmite muito mais do que aquilo que falamos. Para os alunos de Endel que eram fiéis a Jalyn, era uma batalha não serem influenciados pela personalidade forte e pelo estilo de vida de Enganado. Os que não conseguiram permanecer firmes sucumbiram à sua influência.
Esta é uma batalha sobre a qual não somente Paulo nos advertiu, como também muitos escritores do Novo Testamento. Judas nos diz:
Meus queridos amigos, eu estava fazendo todo o possível para escrever a vocês a respeito da salvação que temos em comum. Então, senti que era necessário escrever agora para animá-los a combater a favor da fé que, uma vez por todas, Deus deu ao seu povo.
Jd 1:3 (NTLH)
Observe a urgência em sua voz. Ele queria discutir as coisas maravilhosas que compartilhamos na salvação, mas teve de escrever sobre algo inteiramente diferente.
Ele teve de encorajá-los a lutar, a batalhar e a travar uma guerra pela fé. Que guerra é essa? Ele explica dizendo:
Pois alguns homens que não temem a Deus entraram no meio da nossa gente sem serem notados. Eles torcem a mensagem a respeito da graça do nosso Deus a fim de arranjar uma desculpa para a sua vida imoral. E também rejeitam Jesus Cristo, o nosso único Mestre e Senhor. Há muito tempo que as Escrituras Sagradas anunciaram a condenação que eles já receberam.
Jd 1:4 (NTLH; ênfase do autor)
A guerra é contra a influência criada por pessoas que perverteram a graça de Deus a fim de desculpar o seu estilo de vida ímpio. Esses ataques são mais mortais do que a maior perseguição que possa existir contra a igreja. São mais perigosos do que as leis contrárias aos princípios bíblicos, tais como a lei do aborto e a exigência de que as escolas ensinem sobre a evolução. São uma influência mais poderosa do que qualquer culto ou religião falsos. Eles são fatais e seus resultados duram por toda a eternidade!
Você poderia se perguntar como isto se aplica aos membros da igreja já que as pessoas a quem Judas se refere rejeitavam ou negavam a Jesus Cristo. Ninguém teria como fazer isto em nossas igrejas hoje e ser aceito como cristão. O que faz com que você pense que eles estariam mais vulneráveis naquele tempo? Dê mais uma olhada com atenção. Essas pessoas se infiltram em nossos círculos sem serem notadas.
Ninguém poderia se levantar numa de nossas reuniões hoje ou nos dias de Judas e confessar com a própria boca que nega a Jesus Cristo sem ser notado. Então, como renunciam a Ele? A resposta está em outro livro do Novo Testamento. “Essas pessoas dizem conhecer a Deus, mas o negam pela maneira como vivem” (Tt 1:16; NLT). Elas o negam através de seu estilo de vida, e não com suas palavras. Na verdade, dizem conhecer a Deus, confessam a Jesus como seu Senhor, mas transmitem outra coisa através de suas obras. Lembre-se, elas não apenas enganam o próximo, mas enganam a si mesmas. Em outras palavras, acreditam com toda a sinceridade que são cristãs.
A VERDADEIRA GRAÇA DE DEUS
Judas afirma que essas pessoas distorcem a mensagem da graça de Deus. Isso tem predominado nos últimos dias porque os nossos ensinos abriram a porta para esse tipo de desvio. Ensinamos sobre a graça como se ela fosse o cobertor de proteção de Deus para estilos de vida desobedientes. Essa mentalidade tem sido frequentemente adotada por parte de muitas pessoas na igreja que em geral fazem declarações do tipo: “Sei que não estou vivendo como deveria, mas graças a Deus por Sua graça”. Isso é um grave engano. As Escrituras não definem a graça como um grande “curativo band-aid”, mas sim como a presença de Deus dentro de nós que nos dá poder para fazermos aquilo que a verdade requer de nós.
A graça nos foi ensinada como sendo simplesmente o favor imerecido de Deus. Ela realmente é favor de Deus e não pode ser comprada ou merecida. No entanto, ela também nos confere poder para obedecer, e a evidência de que realmente a recebemos é o nosso estilo de vida temente a Deus. A nossa obediência à Sua Palavra confirma a realidade da graça em nossas vidas. Por esse motivo, Tiago diz:
A fé sem obras (feitos e ações de obediência para dar-lhe suporte) em si mesma é destituída de poder (inoperante, morta). Mas alguém dirá [a você, então]: você [diz que] tem fé, e eu tenho [boas] obras. Ora, mostre-me a sua [suposta] fé, independentemente de qualquer [boa] obra [se puder], e eu por [boas] obras [de obediência] lhe mostrarei a minha fé. Você crê que Deus é um, e faz bem. Mas assim também os demônios creem e tremem.
Tg 2:17-19 (AMP)
Tiago identifica uma grande lacuna em nosso ensino das escrituras. Tiramos do contexto versículos do tipo: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo” (At 16:31). Se apenas crer na existência dele e que Ele é o Filho de Deus basta para ser salvo, então Tiago mostra que os demônios serão salvos porque eles creem. Isso é absurdo! Para enfatizar ainda mais seu ponto de vista, Tiago declara que os demônios tremem. Em outras palavras, eles temem mais a Deus do que alguns que dizem ter fé mas não demonstram uma atitude de obediência correspondente a essa fé.
A evidência de que somos realmente salvos pela graça de Jesus Cristo é o nosso estilo de vida. É por isso que o apóstolo João declara:
Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos.
Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua Palavra, nele, verdadeiramente tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.
1 Jo 2:3-6 (ênfase do autor)
João afirma claramente que a prova de que de fato conhecemos a Jesus Cristo é que guardamos os Seus mandamentos. Aquele que diz que conhece a Jesus mas não guarda a Sua Palavra está no engano, é mentiroso, está alienado da verdade, muito embora confesse com a sua boca ter conhecimento da Palavra de Deus. Por esta razão, João diz:
“Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2:1-2, ênfase do autor).
Observe que ele não diz: “Estas coisas vos escrevo para que quando pecardes, tenhais um Advogado”. Não, o alvo é não pecar. Contamos com o poder da graça de Deus para que possamos aspirar ter uma vida como a de Cristo (“também andar assim como ele andou”), pois estamos livres do controle da natureza da desobediência. Mas, se sucumbirmos ao pecado, temos um Advogado. A celebração do crente é que agora temos a capacidade de servir ao nosso Deus de maneira aceitável. “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável” (Hb 12:28; ênfases do autor).
Aí está a grande questão! A graça nos dá poder para servirmos a Deus de forma aceitável. Então, por que não proclamamos o Evangelho por inteiro, em vez de apenas parte da história? Sim, a salvação é um dom – ela não pode ser comprada e não pode ser merecida. Tudo isso é verdade. No entanto, nos esquecemos de dizer às pessoas que o único meio de obtê-la é abandonando tudo, entregando nossas vidas e confessando o senhorio de Cristo, e que ao fazer isto receberemos poder para viver de acordo com a Sua natureza. Tal como Pedro escreveu:
Graça e paz lhes sejam multiplicadas, pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus, o nosso Senhor. Seu divino poder nos deu tudo de que necessitamos para a vida e para a piedade, por meio do pleno conhecimento daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude. Dessa maneira, ele nos deu as suas grandiosas e preciosas promessas, para que por elas vocês se tornassem participantes da natureza divina e fugissem da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça.
2 Pe 1:2-4 (NVI; ênfases do autor)
Observe que a graça nos é concedida por meio do conhecimento de Jesus Cristo e que graça é o divino poder de nosso Senhor que nos dá tudo o que precisamos para viver de modo temente a Deus. Note ainda que esse estilo de vida piedoso está de acordo com a Sua natureza divina. Assim, temos sido redimidos da corrupção que entrou no mundo através de Adão, corrupção esta que tem se multiplicado pelos desejos dos homens que são contrários a Deus. Não deixe que ninguém, seja por palavras ou ações, venha dissuadi-lo de viver segundo a natureza divina que foi transmitida ao seu ser. Paulo afirma claramente:
Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. Ele se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras. É isso que você deve ensinar.
A graça de Deus nos ensina a negar toda impiedade e as paixões mundanas e a viver uma vida reta e piedosa, com domínio próprio. Os professores têm a tarefa de nos instruir e capacitar, e é exatamente isto que a graça de Deus faz em nossas vidas.
Observe que é nosso dever ensinar tais coisas. Na verdade, Paulo prossegue dizendo: “Esse ensinamento é verdadeiro. Quero que você, Tito, insista nesses assuntos, para que os que crêem em Deus se interessem em usar o seu tempo fazendo o bem” (Tt 3:8; NTLH; ênfase do autor).
Devemos manter as boas obras (fazer o bem) pelo poder da graça de Deus em nossas vidas. Não tínhamos graça antes de sermos salvos, nem os santos do Antigo Testamento; isto é dom de Deus para nós através de Jesus Cristo. É por isso que Jesus nos diz que nos tempos do Antigo Testamento você era considerado um assassino, sob o risco de ir para o inferno, se tirasse a vida física de alguém. No entanto, debaixo da graça, basta que você chame seu irmão de tolo, que tenha preconceito, que se recuse a perdoar, ou que abrigue qualquer outra forma de ódio para correr o risco de enfrentar o fogo do inferno (ver Mt 5:21-22). Por quê? Porque agora somos capazes de viver de acordo com a natureza de Deus através do poder da graça.
Capitulo 5C
INSISTA NESSES ASSUNTOS
Observe que na passagem acima recebemos uma ordem, pela Palavra de Deus: insista nesses assuntos. Ouviu isto? Vejo que essas coisas raramente são ditas nos púlpitos ou entre os crentes de hoje, e muito menos de forma insistente. Por esse motivo, nos desviamos da importância de mantermos as boas obras através da graça de Deus. Na essência, estamos permitindo que o poder que está em nós permaneça dormente pela falta de convicção e afirmação. A nossa fé, que acessa a graça, deve permanecer ativa por meio da verbalização das nossas convicções. Paulo disse: “Para que a comunicação da tua fé seja eficaz, no conhecimento de todo o bem que em vós há, por Cristo Jesus” (Fm 6 ARC).
Se não falarmos dessas coisas constantemente, nos desviaremos da verdade. O escritor de Hebreus fala desse princípio com clareza:
Por esta razão importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?
Hb 2:1-3 (ênfase do autor)
Insistindo na abordagem desses assuntos, mantemos constantemente diante de nós as questões urgentes da eternidade que nos impedem de nos desviarmos. Lembro-me de quando eu costumava pescar ainda menino. Enquanto estávamos concentrados em pescar, o barco se afastava sem que percebêssemos, caso não estivesse ancorado.
Depois de quarenta e cinco minutos, não podíamos sequer reconhecer o local onde estávamos. O distanciamento ocorria porque a nossa mente estava focada em outros assuntos – na pescaria. Isso acabou custando muito caro para pessoas que pescavam em rios que conduziam a quedas d’água mortais. Um número incontável de pessoas caiu em cachoeiras e encontrou a morte por ter se distanciado de onde estavam posicionadas inicialmente.
O mesmo acontece com as importantes questões relacionadas à eternidade. Se Deus diz que devemos afirmar tais coisas constantemente, então esta deve ser a nossa prioridade. Por que não estamos enfatizando o poder da graça, que nos dá a capacidade de manter um estilo de vida piedoso marcado pela obediência? Vejo que a igreja primitiva fazia isso. Examinei alguns escritos dos pais da igreja primitiva e descobri que eles ensinavam coisas que quase pareceriam estranhas aos nossos atuais discursos, mas eles não o faziam contrariando as Escrituras. Os pais dos primeiros séculos acreditavam que as obras exerciam um papel essencial na evidência da nossa salvação.
Vamos dar uma olhada em alguns exemplos.
O primeiro homem que pretendo citar é Policarpo (A.D. 69-156), bispo da igreja de Esmirna e companheiro do apóstolo João. Ele foi preso em idade muito avançada e queimado em um poste. Ele escreveu: “Muitos desejam entrar nesta alegria (da salvação), sabendo que pela graça somos salvos, e não por obras”
2. Esta declaração seria bem aceita hoje em dia nos círculos evangélicos, uma vez que enfatizamos o fato de que não somos salvos pelas nossas boas obras. No entanto, ele também escreveu aos crentes: “Aquele que o ressuscitou dentre os mortos nos ressuscitará – se fizermos a sua vontade, andarmos nos seus mandamentos e amarmos aquilo que ele ama, guardandonos de toda injustiça”
3. Você não vai ouvir isso nos nossos púlpitos hoje em dia. Observe a palavra “se”.
Somos informados de que temos de fazer a vontade do Pai e andar nos Seus mandamentos para sermos ressuscitados na ressurreição dos crentes. Em breve você verá que isto é exatamente o que Jesus disse.
O próximo homem que quero citar é Clemente de Roma (A.D. 30-100), companheiro dos apóstolos Paulo e Pedro e supervisor da igreja romana. Ele escreveu: “Não somos justificados por nós mesmos, nem pela nossa própria piedade ou obras. Mas pela fé pela qual o Deus Todo-Poderoso justificou a todos os homens”.
4. Essa também seria uma afirmação amplamente aceita nos círculos atuais do Cristianismo. Entretanto, ele também escreve aos crentes: “É necessário que sejamos motivados à prática de boas obras. Pois Ele nos adverte antecipadamente: ‘Eis que o Senhor Deus virá... e diante de si está a sua recompensa... para retribuir a cada um conforme as suas obras’ (Rm 2:6-10)”
5. Seria esta verdade a razão pela qual Paulo, ao ser julgado, ressaltou a relevância das obras? “Pelo que, ó Rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento” (At 26:19-21; ênfase do autor). Uma vez que Paulo enfatizou tal importância, parece lógico que seu companheiro Clemente, de Roma, fizesse o mesmo.
O próximo que quero mencionar é Clemente de Alexandria (A.D. 150-200). Ele era líder da igreja de Alexandria, no Egito, e era o encarregado da escola de instrução para novos crentes. Sobre os incrédulos, escreveu: “Ainda que eles pratiquem boas obras agora, isto de nada lhes servirá após a morte, se não tiverem fé”.
6. Esta afirmação também seria calorosamente celebrada entre os evangélicos de hoje. Sabemos, como já indiquei nos últimos capítulos, que independentemente de quantas boas obras um incrédulo realize, elas não poderão lhe garantir a entrada no Reino eterno de Deus; é pela graça de Deus que somos salvos. Entretanto, veja o que mais Clemente escreveu aos crentes:
Aquele que obtém a verdade e se distingue nas boas obras ganhará o prêmio da vida eterna... Algumas pessoas entendem correta e adequadamente como Deus confere o poder necessário (para ser salvo), mas por darem pouca importância às obras que levam à salvação, elas deixam de fazer a preparação necessária para atingirem o objeto da sua esperança.
7. Alguns de vocês podem estar pensando: Parece que esses sujeitos não leram o Novo Testamento. Mas eles leram. Josh McDowell menciona em seu livro Evidence that Demands a Veredict (Evidência que Exige um Veredito)8, que Clemente de Alexandria tirou 2.400 de suas citações de apenas três livros do Novo Testamento. O mesmo se deu com os outros autores. Devo dizer que muitos livros que se encontram em nossas livrarias cristãs de hoje têm muito pouco conteúdo bíblico em seu interior. Será que nos desviamos pelo fato de não estarmos insistindo constantemente nos assuntos que são importantes?
NOSSO EVANGELHO INCOMPLETO
Infelizmente, ficamos restritos à citação de versículos do tipo: “Se com a tua boca confessares Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10:9). Então, dizemos às pessoas que tudo o que elas têm de fazer é repetir a oração mágica e estarão dentro. Mas por que não citamos também as próprias palavras de Jesus? “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lc 6:46). “Senhor” significa Mestre Supremo, e é uma palavra que traz em si o significado de propriedade. Então, Jesus está dizendo: “Não me chame de Senhor e continue a ser o dono da sua vida, é melhor me chamar de ‘Grande Profeta’ ou ‘Mestre’, para que você não engane a si mesmo”.
Vamos examinar agora a declaração de Jesus com a qual abrimos toda esta discussão: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus” (Mt 7:21a, NVI).
Interessante. Essas foram quase as palavras exatas de Policarpo. Então, não é somente o ato de confessar a Jesus, mas o ato de confessar a Jesus e fazer a vontade de Deus que nos levará para o céu. E a única forma pela qual podemos fazer a vontade dele é pela graça que Ele nos dá quando nos humilhamos, negando nossas próprias vidas e recebendo-o como Senhor. É tão simples quanto confessar, mas a parte difícil está em nos rendermos inteiramente à realidade do Seu senhorio.
Veja agora por que enfatizei este ponto de forma tão apaixonada:
Quando aquele dia chegar, muitas pessoas vão me dizer: “Senhor, Senhor, pelo poder do seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres!” Então eu direi claramente a essas pessoas:
“Eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal!” Mt 7:22-23 (NTLH)
No final dos anos 80, Deus me deu uma visão espiritual. Vi uma multidão tão grande que não se podia ver o fim dela. Era um mar de seres humanos. Sei que não havia ateus naquele grupo, ninguém que reconhecesse ser pecador, nenhum seguidor de outras religiões; mas todos confessavam ser cristãos através do senhorio de Jesus. Aquela multidão havia chegado para o Julgamento e estava na total expectativa para ouvir Jesus dizer: “Entrem na alegria do seu Senhor: o Reino de Deus”. Em vez disso, ouviram as palavras: “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade!” (Mt 7:23).
Contemplei o choque e o terror total em seus rostos. Você pode imaginar alguém que se sente seguro acerca de uma salvação que não possui? Você pode se imaginar sendo exilado para as chamas do inferno para sempre quando acreditava plenamente que estava indo em direção ao céu? E ter de lidar para todo o sempre com a lembrança de que você, e possivelmente aqueles que pregaram para você, encararam o seu destino eterno de forma tão leviana? Será que há lugar para um ministério “politicamente correto” para com o perdido e que deixa de lado as admoestações de Jesus? Você pode entender por que devemos proclamar todo o conselho de Deus, e não apenas os pontos positivos ou os benefícios? Sim, nós amamos os benefícios, e devemos proclamá-los e desfrutar deles, mas não à custa de negligenciarmos as advertências!
Lembro-me de ter declarado em uma conferência que o motivo que nos leva a pregar essas partes mais amargas do Evangelho é porque “Não quero ninguém no dia do Julgamento gritando comigo e dizendo ‘Por que você não me falou a verdade?’, enquanto o sangue deles escorre das minhas mãos”.
Após o culto, um pastor se aproximou de mim imediatamente, muito zangado. Na verdade, ele estava irado e disse: “Como você ousa colocar essa teologia do Antigo Testamento sobre nós, ministros?! Eu não terei sangue escorrendo das minhas mãos por não pregar todo o Evangelho”. Era óbvio que ele gostava dos aspectos positivos da Palavra de Deus, mas deixava de lado aqueles que nos confrontam.
Então eu disse: “Senhor, veja o que Paulo disse aos líderes de Éfeso”. Com a minha Bíblia nas mãos, abri no livro de Atos e pedi que ele lesse: “Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (At 20:26-27).
Ele olhou para mim chocado; seus olhos e sua boca estavam abertos. Ele disse: “Todas as vezes em que li o Novo Testamento, nunca percebi isto”. Então tivemos uma conversa amigável. Mencionei que, para apresentarmos qualquer ser humano maduro em Cristo, devemos não apenas ensiná-lo, mas também adverti-lo (ver Cl 1:28). Qual é a advertência? Que não se desvie da verdade, que não vacile por causa da doutrina pregada por impostores que seduzem não só a si mesmos, mas a muitos outros, para que abandonem a piedade.
Paulo havia estado com o povo de Éfeso por bastante tempo. Ele os amava muitíssimo e sabia, pelo Espírito de Deus, que só voltaria a vê-los no céu. Pense no cuidado com que você escolheria suas palavras sabendo que seriam as últimas a serem ditas àqueles que eram como seus filhos. As palavras da sua despedida foram:
Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue. Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos. Por isso, vigiem!
Lembrem-se de que durante três anos jamais cessei de advertir cada um de vocês disso, noite e dia, com lágrimas. At 20:28-31 (NVI)
Como eles torceriam a verdade? Possivelmente com palavras, mas principalmente através de ações. Observe que Paulo tinha um zelo tão grande a esse respeito que não parou de adverti-los dia e noite por três anos. Vemos, uma vez mais, a ênfase; e por isso mesmo devemos insistir nesses assuntos constantemente.
O DEUS DE AMOR E JUSTIÇA
Em nossa alegoria, podíamos sentir o choque e a agonia de Enganado. Você certamente engoliu em seco diante da atmosfera sinistra da masmorra de Lone. Você se encolheu ao pensar em 125 anos na escuridão, sob um calor insuportável, em uma sala de tortura cheia de ar contaminado. Mas isso não é nada comparado ao que um número incontável de homens e mulheres enfrentará se nós não proclamarmos todo o conselho de Deus.
Você deve se lembrar que Jalyn era tanto amoroso quanto justo. No seu julgamento, o amor se revelava pelo fato de que ele não podia permitir a presença de alguém que possuísse a natureza e o caráter de Dagon na cidade de Affabel. Se ele o fizesse, isso perverteria e contaminaria toda a cidade, inclusive todos os seus habitantes. Seu amor protegeu os inocentes.
Ao mesmo tempo, ele era justo a ponto de não permitir que alguém que tivesse a natureza de Dagon recebesse uma penalidade menor por sua desobediência do que o próprio Dagon. Por esse motivo, todos os que não escolheram seguir a Jalyn tinham de ser exilados para a mesma masmorra de Lone.
Do mesmo modo, o amor de Deus não pode permitir que alguém que tenha a natureza de Satanás viva na cidade eterna para sempre. Ele seria injusto em sentenciar Satanás e suas legiões ao eterno Lago de Fogo e fazer exceções para com aqueles que se encontram sob o seu domínio e optaram por manter a sua natureza. Todos os que têm a mesma natureza de Satanás serão sentenciados com ele a passarem a eternidade no Lago de Fogo. Deus é, e continuará sendo, misericordioso e justo, e a Sua glória será conhecida em toda a terra.
Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem.
Salmos 23:4